que têm surgido no mercado. Se fosse assim, seria melhor comprar oleo de cozinha no supermercado.
No entanto, gostaria antes de fazer algumas colocações que acho ser do interesse de todos.
Apesar das informações sobre a magnitude do mercado de compostos de origem vegetal serem pouco precisas, no Brasil (1), estima-se que aproximadamente 25% do faturamento da indústria farmacêutica nacional seja de medicamentos de origem vegetal, apesar de apenas 8% das espécies vegetais da flora brasileira terem sido estudadas. Por outro lado, afirma-se que o mercado mundial de drogas de origem vegetal é estimado em U$12,4 bilhões, sendo a Europa responsável aproximadamente por 50% deste mercado(2).
As plantas são uma fonte importante de produtos naturais biologicamente ativos, onde muitos deles são modelos para síntese de produtos farmacológicos. Wall e Wani3 descreveram que há uma enorme diversidade em termos de estrutura e propriedades físico-químicas e biológicas encontradas nas plantas, e apesar do aumento de estudos nesta área, somente aproximadamente 17% das plantas foram estudadas quanto ao seu potencial medicinal. No entanto, houve nos últimos anos, um crescimento significativo da produção de produtos "cosmecêuticos", principalmente dermatológicos, com substâncias de origem vegetal, ampliando assim a integração entre a indústria farmacêutica e os centros de pesquisa.
O óleo vegetal, devido suas características tem sido muito estudado e pouco a pouco, vem substituindo amplamente o uso do óleo mineral e do óleo de origem animal em produtos cosméticos, farmacológicos e cosmecêuticos.
Vários autores4,5,6,7 têm procurado fazer recomendações gerais e/ou especificas sobre o cultivo de plantas medicinais. Em linhas gerais, estas recomendações seguem regras básicas como: a escolha e o preparo da área para cultivo, sistemas de cultivo e tratos culturais, colheita, armazenagem e até a forma de obtenção da substância.
Para que o metabolismo da planta funcione normalmente é necessário que o local de cultivo, por exemplo, seja o mais semelhante possível com o local de ocorrência natural da espécie.
Martins et al8 relataram que de acordo com a concentração da substancia ativa da planta, existe horários em que estes ativos apresentam maiores níveis de cocentração. Plantas que possuem óleos essenciais, por exemplo, devem ser colhidas pela manhã. Este critério e importante no que diz respeito à qualidade química, pois uma baixa concentração de substâcia ativa no material, nos deve levar a desconfiança da pureza do produto. O conhecimento do momento correto da coleta leva a obtenção de produtos de melhor qualidade.
Evans15 descreveu que exemplares da mesma espécie, colhidos em épocas diferentes, ou de locais diferentes não têm necessariamente a mesma atividade biológica e é difícil controlar quimicamente um extrato vegetal em virtude do grande número de substâncias normalmente presentes.
Apesar da crescente demanda da utilização e manejo de populações naturais de plantas medicinais, no Brasil ainda faltam informações que nos permitam maximizar os processos de produção sem que ocorram alterações de teores das substâcias ativas9. Esta área, necessita de grandes refinamentos e de pessoal com formação na área, atuando em pesquisa, que é um dos principais fatores limitantes10
Devido sua megabiodiversidade,o Brasil permanece com o maior potencial em obter novos produtos farmacêuticos, no entanto a falta de conhecimento das características da biologia reprodutiva e estrutura populacional das espécies levam as indústrias nacionais a importarem substâncias ativas de outros paises, ainda que isto implique em aumento do preço final do produto industrializado11.
Para avaliar a qualidade de um óleo, por exemplo, devemos considerar inclusive o método de extração e a origem do óleo. A planta tem uma composição química complexa. Freqüentemente ocorre á extração concomitante de vários tipos de substâncias farmacologicamente ativas ou não.
Os óleos, geralmente, podem ser extraídos das seguintes formas12,13,14:
A) extração por prensa contínua a frio onde as sementes são esmagadas e espremidas por uma prensa. Este método mantém todas as características e propriedades do óleo;
B) Extração por solvente e/ou percolação onde a polpa é saturada com um solvente (geralmente hexano) que dissolve a maior parte do óleo presente na polpa, à massa obtida é filtrada e o solvente evaporado pelo aquecimento do óleo; ou a planta é moída, colocada em um percolador por onde passará um solvente e se obterá o óleo.
C) Extração por maceração onde a erva, flor ou semente é infusa por um determinado período de tempo em outro óleo vegetal qualquer, até que a matéria prima passe para o óleo solvente.
A extração do óleo através de solventes hexano ou óleo solvente geralmente requerem aquecimento da substância obtida. O aquecimento e o uso de grande quantidade de solvente são desvantagens destes métodos, pois podem alterar as características dos componentes extraídos. Devemos avaliar ainda os níveis de toxicidade e o custo do solvente.
Outros cuidados devem ser tomados em um método de extração: a eficiência do processo, a estabilidade das substancias extraídas, a disponibilidade dos meios, o custo do processo escolhido, considerando a finalidade do extrato que se quer preparar4.
O óleo de girassol é rico em acido linoleico, no entanto, a quantidade de ácido linoleico encontrada está diretamente ligada ao índice de absorção de iodo presente no óleo e pode apresentar variações extremas.
Quando o produto é destinado para uso tópico, deve-se averiguar e assegurar uma quantidade estável e suficiente de ácido linoleico, em determinada concentração, a qual possui características próprias, podendo inclusive acelerar o processo de cicatrização. Isto impede que utilizemos topicamente, simplesmente o óleo extraído do girassol ou o produzido para ser utilizado como alimento.
Após extração, o óleo deve passar por processos de estabilização e ajuste da fórmula, pois para uso tópico, deverá sofrer o acréscimo de ácido linoleico, vitaminas A e E dentre outras substâncias. Os óleos produzidos para alimentação, têm ausência ou quantidades insuficientes de substâncias importantes para a pele como vitaminas (substâncias antioxidantes) e ácido linoleico. Apos a obtenção do óleo, este passa pelo processo de ajuste e estabilização da fórmula, onde cada componente tem uma função especifica.
Dentre todas as substâncias extraídas dos ácidos graxos, uma das mais importantes para a pele é o ácido linoleico.
O acido linoleico16 é a principal substância ativa dos ácidos graxos essenciais. Recebe a nomenclatura de ▲,9,12 octadecadienóico ou ômega 6 (C18:2) onde 9 e 12 representam à posição de suas duplas ligações. O ácido linoleico é precursor de PGE1, PGE2, do ácido aracdônico e de várias substâncias farmacológicas ativas.
Declair17,18,19,20 relatou vários estudos clínicos onde descreve a influência do ácido linoleico em todas as fases do processo de reparação tecidual.
1. Fase Inflamatória: estimula o desbridamento autolítico
O ácido linoleico tem ação quimiotática para os macrófagos21 que quando expostos a um sinal primário estimulam a liberação de PGE2 a qual induz a elevação dos níveis de cAMP22. Consequentemente ao aumento da PGE2 e cAMP há a liberação de ornitina descarboxilase, uma poliamina que produz putrescina23 a qual regula a sequência de ativação de componentes que resultam na síntese de MMPs como a MMP-1 (colagenase), MMP- 3 (estromelisina) 24, duas substancias responsáveis pelo desbridamento autolítico nas lesões25.
Além de estimular o desbridamento autolítico, vários autores26,27,28 já descreveram também as características bacteriostáticas e ação bactericida para gram positivo como o S. Aureus29. Esta ação parece estar relacionada ao índice de hiperosmolaridade e insaturabilidade do óleo Greenway30,27 justifica a ação bactericida do ácido linoleico através da alteração permeabilidade da membrana celular bacteriana e por possuir uma ação surfactante - aumentando a tensão da interface da membrana celular da bactéria26. Lancey31 relatou que o ácido linoleico é capaz de bloquear a síntese de O2 e do aminoácido da bactéria levando a "explosão bacteriana" e morte da bactéria.
2. Fase proliferativa: o ácido linoleico regula o sinal mitogênico dos EGF32,33,34 que atua diretamente na proliferação celular; estimula o BALB/c 3T3 dos fibroblastos aumentando a síntese de colágeno35; estimula a proliferação de tecido cognitivo assim como a neoangiogênese ou o desenvolvimento do tecido de granulação35,36.
3. Fase maturativa: O processo de epitelização e maturação epidérmica fazem parte da fase remodeladora da cicatrização de feridas. Estes processos são complexos e envolvem os eicosanóides que são derivados dos ácidos graxos essenciais, fatores de crescimento, proliferação epidérmica e manutenção das funções normais da epiderme. O desenvolvimento da pele e seus anexos são afetados por substâncias derivadas do AL como as prostaglandinas e EGF, por exemplo32. O ácido linoleico regula proliferação epidérmica37; regulariza as funções normais da pele regulando o processo de maturação epidérmica38
Com a grande quantidade de produtos lançados no mercado contendo ácidos graxos essenciais, devemos atentar para o controle de qualidade e formulação de cada um. Apesar do óleo de girassol possuir várias substâncias farmacologicamente ativas, a ação terapêutica de cada uma está relacionada a todo o processo de produção, da matéria prima até o acréscimo de antioxidantes e do princípio ativo. A adequação da formulação do produto envolve a realização de estudos, a fim de evitarmos variações de dosagem de cada componente da fórmula, alterando assim sua ação terapêutica.
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Vania Cohen